Crise climática no Sul causa recessão de 3,5% no agro

O Rio Grande do Sul, um dos principais pilares do agronegócio brasileiro, enfrenta desafios significativos devido à crise climática, cujos efeitos reverberam por todo o país. Com uma participação de 12,4% no Produto Interno Bruto (PIB) do setor agrícola nacional e sendo responsável por 70% do arroz consumido no Brasil, as recentes adversidades climáticas têm gerado preocupações acerca do abastecimento e dos preços dos alimentos.

Como o maior produtor de arroz do país, o estado gaúcho detém uma fatia impressionante de 71% da produção nacional deste cereal. As recentes inundações têm levantado preocupações sobre a disponibilidade interna do produto, resultando na autorização governamental para importações emergenciais, a fim de evitar uma possível escassez.

 

Colheita perdida

Além do arroz, o Rio Grande do Sul se destaca na produção de soja, trigo e carnes, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Atualmente, o estado está na fase final da colheita de verão, com aproximadamente 70% da soja e 80% do arroz já colhidos. No entanto, estimativas do Bradesco sugerem que cerca da metade do que não foi colhido pode ter sido perdida devido às enchentes, o que representa uma redução significativa na produção nacional de arroz e soja.

Os impactos não se limitam apenas às perdas diretas na produção agrícola. O relatório do Bradesco destaca que as estimativas são conservadoras, uma vez que não levam em conta as colheitas já em fase de beneficiamento. Além disso, as inundações podem prejudicar o plantio futuro, especialmente de trigo, o que diminuiria a produtividade e poderia elevar os preços. 

Como fica a criação de animais?

A situação também afeta a criação de animais, com o Rio Grande do Sul sendo responsável por uma parcela considerável dos abates de suínos e frangos no país. Com parte da produção impactada, é esperado um impacto negativo adicional, especialmente para os suínos, já que o ciclo de criação é mais longo. 

Além das perdas na produção agrícola, os problemas logísticos agravam a situação afetando tanto o escoamento quanto a chegada de insumos. Isso deve impactar principalmente os segmentos de laticínios e carnes, o que pode levar a aumentos nos preços dos alimentos em todo o país. 

A experiência passada serve como um alerta sobre os desdobramentos possíveis. Em 2008, quando um ciclone subtropical atingiu o Rio Grande do Sul, os preços do arroz subiram cerca de 40% no atacado e 20% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em apenas um mês. 

Efeitos econômicos para o Brasil

Os efeitos econômicos são significativos para todo o Brasil, as estimativas do Bradesco sugerem um impacto potencial de 0,2% na inflação deste ano, devido à redução na oferta de soja e ao aumento no preço do arroz. Isso pode comprometer o crescimento econômico nacional, já previsto em 2% para 2024. 

A economia gaúcha, que representa 6,5% do PIB nacional, pode sofrer uma queda substancial, afetando o desempenho econômico do país como um todo. Uma redução de 0,3 ponto percentual no crescimento do PIB do Brasil, conforme estimado pelo Banco Central, teria implicações significativas, desacelerando a economia para cerca de 1,75%.

A normalização da situação econômica depende da extensão dos danos. Segundo o Bradesco, é necessário analisar os dados de maio na atividade econômica para determinar o impacto total. 

Uma extensão dos estragos poderia reduzir ainda mais as projeções de crescimento do PIB, aumentando os desafios econômicos enfrentados pelo país.

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